sexta-feira, 8 de abril de 2011

Elegia

Estou em casa. Aqui, onde recolhi as memórias que, hoje, me preenchem a cabeça. Estou em casa e vejo outro sítio. Estou em casa e não vejo pessoas familiares. Estou em casa e vejo pessoas a manipular outras, estou em casa e vejo pessoas a quererem ser mais que outras, estou em casa e vejo pessoas a mandarem noutras, estou em casa e ninguém é quem diz ser, estou em casa e tudo me soa a falso, estou em casa e não vejo verdade. E quero uma explicação? Eu tenho-a. Os tempos mudam, dizem eles. E eu concordo. Sim, os tempos mudam, mas eu continuo aqui. O meu tempo não mudou. Mas o Tempo mudou. E eu continuo no antigo tempo. Esse tempo, esse longínquo tempo em que eu tinha os meus verdadeiros companheiros comigo, a meu lado, éramos todos iguais. E de vez em quando eu esforço-me por relembrar esse tempo. Mas esse esforço custa. Não é irónico termos de nos esforçar para voltar a sentir aquele tão precioso silêncio da sala de convívio à noite, aquele constante ambiente de liberdade, de simplicidade? Não é possível explicar o antigo tempo a quem não o viveu. Por muito que me tente adaptar, não consigo. Não consigo! As coisas mudaram, ficaram terríveis! Novas pessoas vieram que não conhecem a minha casa. Não conhecem por muito que digam que sim. Não conhecem.

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